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Estudantes transferidos de escolas e de cidade após as enchentes no Rio Grande do Sul: levantamento mostra que pelo menos 50 mil alunos de escolas gaúchas pediram transferência após desastre ambiental (Foto: Auryn Souza)

Migração e adaptação: a vida escolar após as enchentes no Sul

Migração e adaptação: a vida escolar após as enchentes no Sul

Por Emilene Lopes ODS 13ODS 4

Levantamento mostra que pelo menos 50 mil alunos de escolas gaúchas pediram transferência após desastre ambiental

Publicada em 11 de dezembro de 2024 - 00:08 • Atualizada em 23 de dezembro de 2024 - 09:38

As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e o começo de maio deixaram um rastro desolador. Segundo a Defesa Civil estadual, foram 478 municípios afetados – e mais de dois milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas e fugir para sobreviver à velocidade das águas. Muitos viveram uma dupla perda: o lar e a escola. 

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O Mapa Único Plano Rio Grande (MUPRS) aponta que 365 escolas municipais foram atingidas pelas enchentes. Esse número representa 7,5% do total de 4.864 escolas de redes municipais que existem no estado. Na rede estadual, 1.104 instituições de ensino tiveram a rotina escolar afetada de algum modo e cerca de 600 foram danificadas, impactando diretamente mais de 403 mil estudantes.

Eu nunca fui quietinho assim. Eu estou com trauma de enchente

Arthur Bastos
9 anos

Por isso, a migração que acontece após as inundações não é só em busca de um lar – novo ou provisório – em bairros e cidades que não alagaram. Ela também significa conseguir vaga em uma nova escola e recomeçar a vida escolar. 

A reportagem fez o levantamento da quantidade de transferências e os destinos dos estudantes gaúchos entre maio e setembro de 2024 e do mesmo período de 2023. Na rede estadual, os dados foram obtidos por meio da Lei de o à Informação e indicaram a ocorrência de 45 mil transferências. O número é 28% maior do que os cerca de 35 mil alunos transferidos no mesmo período em 2023. 

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Na rede municipal, foram selecionadas dez cidades fortemente atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul: Muçum, Roca Sales, Cruzeiro do Sul, São Sebastião do Caí, Igrejinha, Eldorado do Sul, Guaíba, Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo. As informações foram solicitadas diretamente na secretaria de Educação de cada município. Nem todas enviaram as informações completas, principalmente as de 2023. Mas o levantamento apurou que, pelo menos, 5.487 estudantes pediram transferência destas dez cidades no período das enchentes de 2024.

Para ter o aos dados completos da pesquisa, clique aqui.

Cassiana com os filhos Isabela, Arthur e Willian: dificuldade de adaptação em Tramandaí após família perder tudo em Eldorado do Sul (Foto: Arquivo Pessoal)
Cassiana com os filhos Isabela, Arthur e Willian: dificuldade de adaptação em Tramandaí após família perder tudo em Eldorado do Sul (Foto: Arquivo Pessoal)

Litoral Norte como destino

Mesmo sem dados oficiais que façam o mapeamento da migração após as enchentes no Rio Grande do Sul, moradores do Litoral Norte relatam uma maior movimentação nas praias, na procura por alugueis, serviços públicos e nas transferências escolares. A rede municipal de educação de Tramandaí, que fica a 128 km de Porto Alegre, recebeu 153 estudantes de famílias que foram atingidos pelas inundações em Porto Alegre, Eldorado do Sul, Canoas e Novo Hamburgo – a maioria dos alunos veio para as séries iniciais do Ensino Fundamental. 

Cassiana Santos Bastos, 32 anos, voltou a morar em Tramandaí depois de viver duas enchentes em Novo Hamburgo. A última foi em maio deste ano e fez com que a família ficasse sem nada: móveis, roupas, eletrodomésticos, pertences pessoais… a água levou tudo. O recomeço após a tragédia não está sendo fácil para ela, o marido e os três filhos. 

Ela conseguiu matricular os dois filhos mais velhos em escolas municipais, mas a pequena Isabela, de 3 anos, ficou sem vaga na creche. Isso fez com que a mãe largasse o emprego de vendedora em loja para ficar em casa com a pequena. Atualmente, só o marido sustenta a casa, trabalhando como mecânico em uma oficina da cidade.

A secretária de Educação de Tramandaí, Alvanira Gamba, informou que existem 400 crianças na fila para uma vaga em creche no município. Ela explica que o impacto dessa demanda extra na estrutura da rede de ensino é grande e que teve que abrir novas turmas e convocar professores para trabalhar um turno a mais em algumas escolas. 

Trabalho escolar de aluno transferido de escola e de cidade após as enchentes: preocupação com impactos na saúde mental de estudantes e suas famílias (Foto: Auryn Souza)
Trabalho escolar de aluno transferido de escola e de cidade após as enchentes: preocupação com impactos na saúde mental de estudantes e suas famílias (Foto: Auryn Souza)

Cicatrizes emocionais das enchentes

A migração causa impactos emocionais nos estudantes e suas famílias. “Eu nunca fui quietinho assim. Eu estou com trauma de enchente”, afirma Arthur, 9 anos, filho de Cassiana. Atualmente, o garoto estuda na Escola Municipal de Ensino Fundamental Marechal Castelo Branco, em Tramandaí. Apesar de bem adaptado e de não querer voltar para Novo Hamburgo, ele demonstra desconforto em lembrar de tudo o que ou e um comportamento mais retraído. 

Já o irmão Willian, 14 anos, estuda em outra escola e está enfrentando problemas na instituição: já foi furtado pelo menos três vezes – perdeu lanches e estojo – depois que foi transferido. Cassiana já foi reclamar da situação na escola, mas não se sentiu acolhida. Em 2025, os planos são mudar Willian para a mesma escola de Arthur. 

“Eles ficaram bem abalados. Quando chove e tem vento forte, eles ficam bem nervosos. Aí acabam dormindo no meu quarto”, conta Cassiana. Quando questionada sobre como ela está, a mãe relata que sofre bastante. “Eu choro muito, fico deprimida. Porque é uma vida inteira, sabe? Bate um desânimo”. 

Francieli Valim e Gabriela Grassi Anflôr, diretoras de escola em TramandaÍ, município que recebeu mais de 100 alunos transferidos de cidades fortemente atingidas pelas enchentes: acolhimento de estudantes sem documentos, material e histórico escolar (Foto: Auryn Souza)
Francieli Valim e Gabriela Grassi Anflôr, diretoras de escola em TramandaÍ, município que recebeu mais de 100 alunos transferidos de cidades fortemente atingidas pelas enchentes: acolhimento de estudantes sem documentos, material e histórico escolar (Foto: Auryn Souza)

Escola como ponto de apoio no recomeço

Além de Arthur, a escola Marechal Castelo Branco recebeu outros três alunos que vieram para Tramandaí por causa das enchentes de 2024. Francieli Valim e Gabriela Grassi Anflôr, que fazem parte da gestão da instituição, explicam que os estudantes chegaram sem documentação ou histórico escolar e que a orientação da Secretaria de Educação era facilitar a entrada no sistema de ensino e fazer a matrícula. 

As educadoras contam que a mobilização para acolher e auxiliar os atingidos pela enchente foi grande. Além dos novos alunos, outras pessoas da comunidade escolar estavam abrigando familiares em casa. E o tema foi introduzido na sala de aula, tanto para receber os novos colegas, quanto para conscientizar sobre o que e porque as enchentes estavam ocorrendo. “Tudo com cuidado para não expor, não machucar, mas dizendo para as turmas terem cuidado e acolherem os colegas”, conta Gabriela. 

Maria Fernanda Hennemann, psicóloga clínica e educacional, explica que espaços de escuta e acolhimento nas escolas foram e ainda são fundamentais para os alunos atingidos pelas enchentes. A psicóloga afirma que pais e educadores precisam ficar atentos ao comportamento e reações exageradas desses alunos, tanto de agressividade quanto de introspecção. As atividades de expressão como desenhos e textos também podem dar sinais de como eles estão lidando com o que viveram. “Não tem data para terminar o sofrimento e ele vai reverberar em cada um de maneiras diferentes”, afirma.

*Pauta selecionada pelo 6º Edital de Jornalismo de Educação da Jeduca e da Fundação Itaú

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Emilene Lopes

Emilene Lopes é jornalista gaúcha com foco em educação, meio ambiente e cultura. Atua como repórter freelancer e lidera o projeto de jornalismo local Retratos de Guaíba, dedicado a resgatar memórias e promover o diálogo sobre a identidade e cultura dos guaibenses. Vencedora do Prêmio Paulo Freire de Jornalismo 2022, na categoria Mídias Digitais, também produziu o documentário Histórias do Cine Gomes Jardim (2019)

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